"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Não-inspiração

Não sei medir o desastre
de não se conseguir escrever quando é necessário.
Procurar palavras torna-se como procurar agulhas num palheiro
um palheiro do tamanho do vocabulário.
Minha inspiração existe para aquecer o coração das gentes!
Mas minha não-inspiração não significa que eu não possua nada aproveitável...
Só que tudo o que eu possuo para o momento não seja traduzível; sendo meu, sem ser meu de fato!

Alana Oliveira.

William Shakespeare disse:

"SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO.
Qual é mais digna ação da alma; sofrer os dardos penetrantes da sorte injusta, ou opor-se a esta corrente de calamidades e dar-lhes fim com atrevida resistência?
Morrer... dormir... nada mais... Morrer é dormir, sonhar talvez...!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.

Adélia Prado
(Bagagem - Editora Guanabara)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

Poeminha sobre insuficiência

Rapazinho
Estuda depressa
Pois burro aos trinta
É burro a beça

Millôr Fernandes.