"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Entra ano, sai ano e as tragédias se repetindo

O Texto que segue, publiquei neste mesmo sítio há pouco menos de um ano atrás, no domingo, 21 de fevereiro de 2010.

"Vale a pena ver de novo"

Não basta a chuva? Raios! Terremotos, Vulcões...!

Quando pequena, minha resposta à convencional pergunta "qual é o seu maior medo?" era sempre ligeira e invariável: "- Tenho medo de Vulcão!". Hoje, um pouco (bem pouco mesmo) mais sóbria e amadurecida dos pensamentos vejo que gastei grande parte da minha efêmera infância alimentando um medo irreal, pelo menos na minha condição de cidadã brasileira.

Porém, os fenômenos naturais, últimamente apenas tem se apresentado como catástrofes naturais, assolando populações.
Chego até a pensar que hoje, minha resposta para a mesma pergunta convencional, a grosso modo e levando em consideração que habito um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, de chuvas abundantes durante todo o Verão, deveria ser: "- Tenho medo de chuva".

Exemplo recente é a catástrofe de Angra dos Reis que deixou 52 mortos. Mas esperem... não descontemos toda a culpa nas gotículas derramadas. Vítimas houve não porque choveu, mas porque a tal pousada estava instalada onde não deveria estar: ao sopé de um morro geologicamente instável. Ihhh!
Vidas sacrificadas, patrimônio perdido, bilhões de prejuízo para um país que dança - só no mau sentido - na chuva.
Sem muitas delongas, nós brasileiros sofremos de um problema de perda de memória de frequência anual. A cada dezembro e janeiro que passam, esquecemos o que aconteceu no dezembro e janeiro anteriores. Por consequência, as mesmas áreas, com poucas variações, são atingidas. O problema é a infra-estrutura (ou a falta dela).

Mas prosseguindo ao assunto das chuvas, também podemos citar o exemplo recente da metrópole paulistana: de 1° de Dezembro até 4 de Janeiro castigada pelos ferozes temporais que não davam trégua. Zona Leste, Sul e Oeste nadando. Córregos Aricanduva e Ipiranga transbordados...
E não basta a chuva? RAIOS!

Avançando as fronteiras brasileiras e as catástrofes naturais, chegamos ao Haiti. Se antes o país já vivia em condições sub-humanas imaginem depois do terremoto com a força de 30 bombas atômicas.
Quando leio qualquer reportagem sobre a situação do país, lamento que Thomas Hobbes não tenha vivido tanto para presenciar sua teoria de "Estado Natural" se concretizando em Porto Príncipe - o pequeno mundo sem lei.
Dia desses mesmo li na VEJA edição 2148 o seguinte trecho de Diego Escosteguy:

''Conheci Phapichue, 18 anos, em Porto Príncipe. Ele não me pediu água, comida ou dinheiro. Pediu-me livros. 'Eu estudava português', ele me disse, ao descobrir que falava com um brasileiro. Estudava, no passado mesmo. A escola dele desabou.''

Choquei, claro. Fiquei com vontade de que os governos mandassem também livros e revistas aos haitianos. Afinal, sem alimentar a alma, como é possível sonhar com o futuro melhor?

Au revoir!


Alana Oliveira.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade.

SER GRANDE


Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive.

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)