"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Não-inspiração

Não sei medir o desastre
de não se conseguir escrever quando é necessário.
Procurar palavras torna-se como procurar agulhas num palheiro
um palheiro do tamanho do vocabulário.
Minha inspiração existe para aquecer o coração das gentes!
Mas minha não-inspiração não significa que eu não possua nada aproveitável...
Só que tudo o que eu possuo para o momento não seja traduzível; sendo meu, sem ser meu de fato!

Alana Oliveira.

William Shakespeare disse:

"SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO.
Qual é mais digna ação da alma; sofrer os dardos penetrantes da sorte injusta, ou opor-se a esta corrente de calamidades e dar-lhes fim com atrevida resistência?
Morrer... dormir... nada mais... Morrer é dormir, sonhar talvez...!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.

Adélia Prado
(Bagagem - Editora Guanabara)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

Poeminha sobre insuficiência

Rapazinho
Estuda depressa
Pois burro aos trinta
É burro a beça

Millôr Fernandes.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Academia da vida

Outro dia titia chegou aqui em casa, enxutona, tinha muito tempo que não a via.
- Ê titia ein, cinquentinha, tudo em cima, que isso aí ahn?
Aí a titia me disse que era a academia da vida.
Acorda cedo, dorme tarde, vai e volta a pé do trabalho.
Achei interessante!
Gente antiga não tem dessa de lipoaspiração, hidrolipo, lipoescultura, academia, dieta.
Esse negócio de sedentarismo é coisa da nossa geração. Nós inventamos a preguiça, a dependência do controle remoto, do carro, do celular, do videogame.
Não é à toa que antigamente as pessoas eram mais felizes com menos!

Alana Oliveira.

EU

Olhar pra frente me é costumeiro,
mas nas tardes cinzentas, nostálgicas, desvio o olhar pra trás
e vejo tudo quanto não conheço.
Quanta novidade naquilo que eu pensava que sabia sobre mim!

Alana Oliveira.

Intempéries do destino

Pensar incomoda como sapato apertado
quanto mais o pé anda, mais longe o destino parece estar.
O pé é a metáfora do pensamento.
Escrever é minha maneira de estar comigo
e me aproximar do destino.
É vender idéias de graça
(idéias que finjo que compreendo)
é ter o sol,
e também a chuva quando é preciso.
É a chuva que molha o pé apertado no sapato
e alivia a dor.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Poesia em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Egoismo

Hoje chorei baixinho,
que era pra não incomodar ninguém.
Porque tristeza é coisa que não se divide.
É responsabilidade tamanha
deixar o dia dos outros mais plumbeo
que não me cabe e eu não suporto
nem se for sem querer.
Hoje foi um dia daqueles que não deviam existir.
Daqueles que a gente lamenta "de cão"
(coitadinhos dos cãezinhos... tão agradáveis que são!)
Só por isso que amanhã eu levanto,
como se nunca tivesse vivido antes.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quarto 23

Aqui, neste quarto de hotel tão frio
tão desesperado e impessoal,
deito na cama
e penso na vida.
Não me sinto a vontade
nem pra pensar na vida.
Coisa estranha essa de acordar e dar bom dia à pessoas esquisitas!
- Não gosto não.
Casa da gente é outra coisa
tem gente da gente.
Cúmplice, confidente.
Cachorro latindo, criança correndo, telefone tocando junto com a campainha
a empregada indo atender cantando o forró do rádio.
Mamãeficandodoidacomfeijãoquenãoquercozinhardireito.
Aqui não!
Aqui só tem frio...

Alana Oliveira.

sábado, 16 de outubro de 2010

Israel Kamakawiwo'ole



'Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
And the dreams
That you've dreamed of
Dreams really do come true'

'The colors of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people passing by
I see friends shaking hands
Saying, "How do you do?"
They're really saying, I... I love you'

'I hear babies cry and I watch them grow,
They'll learn much more than
We'll know
And I think to myself
What a wonderful world'


AND THE DREAMS THAT YOU DARE TO, WHY, OH, WHY CAN'T I?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Velório

ah! Quão injusto não sabermos qual o último dia em vida!
... e que sorte daqueles nascidos enfermos que o sabem!
Acordaria cedo, saudando o sol,
ofereceria, sem afã, meu último sorriso sincero aos estimados,
e desfrutaria do inverso.
Neste dia não perderia tempo com as bobagens: discussões, ...
Despedir-me-ia com sentimento de missão cumprida!
Sem choros, pois que derradeira separação já havia de ser esperada.
Contemplaria a lua, calma, serena
e dormiria eternamente.

Mas, pasme!, morre-se sem saber:
um acidente ou outra coisa qualquer.
Leva-se amargura, vontade, inconclusão
deixa-se vazio, tristeza, inconformismo.

É pra compensar essa injustiça que no meu velório
quero cerveja, música alta, a entrada franca.
Não mereço que chorem na última festa que eu vou dar na Terra.

Alana Oliveira.

Fardo

Entre o improvável e o impossível
só existe o tempo.
Para encurtá-lo gasta coragem, fé.
Minha coragem passa pela prudência
e minha fé aumenta quanto mais remota é
a possibilidade.
Porque eu não sirvo pra viver a vida
no pretérito imperfeito do subjuntivo.

Alana Oliveira.

domingo, 10 de outubro de 2010

Se é amor?

Meu coração palpita
e minhas mãos tremem.
Sinto uma esquisita
suadeira.
Minha cabeça lateja
e minhas pernas não me obedecem.
À todo tempo me atormenta
o medo de ter feito besteira.

Uma mistura de sentimentos me invade
e me confunde
meu raciocínio fica lento
e minha visão debilitada:
Vejo tudo e não entendo nada.

- Se é amor? Não...
Eu tô falando de ressaca!

Alana Oliveira.

[Cerveja como são as coisas
Cê num sabe de onde eu Vinho
então não me Campari
com qualquer Rum]

.

sábado, 9 de outubro de 2010

Criação

Mantenho um medo no fundo de mim
do desapontamento alheio
que mede o mesmo comprimento do meu
desinteresse em agradar.
Não é que desejo a indiferença
até gosto de gerar espanto,
desorientar.
Desapontamento é diferente.

Tenho uma alma fecunda
que ao mesmo tempo que não esquece
mal serve pra se lembrar.
Sei pouco o pouco que sei
e pouco de genuíno tenho a contar.
Mas acredito no que invento
a ponto de pés juntos jurar
que pode até ser que esta convicção dolosa
ainda venha a me custar.

Viver da imaginação é duro
mas minha obstinada inconsequência
me impede de preocupar.
Não sou quem escrevo
mas o que escrevo me transforma.
Acredito no que invento.

Eu sou naquilo que crio
e não naquilo que creio.

Alana Oliveira.

Memória

Escrevo porque sou incapaz
de expressar na retórica
a profundidade e o mistério das coisas.
Eu que nem sei o que são as coisas.
Entender é mais fácil
compondo.
Fosse eu monarca da Terra
proibia a fabricação de borracha
e excluía 'apagar' dos dicionários.
Escrever é memória.
A coisa escrita tem sentido
por si só,
ainda que a filosofia mude.
É como uma foto antiga:
não rasgamos só porque estamos diferentes, mais esbeltos.
A coisa que existe, evolui
entretanto evoluir não é critério de esquecimento.
A coisa que um dia fez sentido
é o que inspira a coisa que faz sentido
hoje.
Uma coisa não existe sem a outra,
assim como o homem não existe sozinho.

Alana Oliveira.

Refrigério

Sentir saudade é como sentir fome
a urgência de um é tal qual a do outro.
Não dá pra disfarçar a fome
fome não tem nome
saudade também não.
Não se deixa de sentir fome
só porque se come
tudo de uma vez.
A fome sempre volta
bate na porta,
vai logo entrando e te devorando a sensatez.
Igualzinho a saudade
ela te dá um nó na garganta.
Fome e saudade demais
são o diabo.
Saudade não tem cura
o que se faz são mitigações.
Fome e saudade são marcas inveteradas
que não deviam existir sem ter estado.
Porque sentir fome do que já se comeu
é menos mau do que sentir saudade
do que não se viveu.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

BANCOS e a 'arte' de fabricar DINHEIRO

Amados,

Desejo que estejam a par das engrenagens que movem o sistema bancário; portanto que o diálogo abaixo, tomado entre um banqueiro e um cliente, seja bastante esclarecedor:

Cliente: Para que existem os bancos?
Banqueiro: Bem... para ganhar dinheiro, naturalmente.
Cliente: Para que os clientes ganhem?
Banqueiro: Não, para que os bancos ganhem, claro!
C: E por que é que a publicidade bancária não menciona esse fato?
B: Não seria de bom gosto, mas isso está subentendido quando se faz referência a reservas e coisas do tipo. Esse é o dinheiro que se ganha.
C: Evidentemente, ganha-se esse dinheiro dos clientes...
B: Presumo que sim.
C: Bom, e quando se fala em ativos, alude-se também a dinheiro que o banco ganhou?
B: Não exatamente. Esse é o dinheiro que se usa para ganhar dinheiro.
C: Ah, ok ! Suponho então que o guardem numa caixa-forte...
B: De modo nenhum. Nós emprestamo-lo aos nossos clientes.
C: Então os senhores não o têm?
B: Não.
C: Então, como podem chamá-lo ativo?
B: Porque ele realmente seria assim se pudéssemos recuperá-lo.
C: Mas... certamente têm algum dinheiro guardado em algum lugar!
B: Claro que sim. Normalmente temos uma quantidade igual ao ativo, a que chamamos de passivo.
C: Mas, se o têm... como podem chamá-lo de passivo?
B: Porque não é nosso.
C: Então, por que o têm?
B: Porque os clientes nos emprestaram.
C: Mas, como? Quer dizer que são os clientes que emprestam dinheiro aos bancos?
B: Exato. Depositam dinheiro nas nossas contas... e realmente o emprestam ao banco.
C: E que fazem os bancos com o dinheiro?
B: Emprestam-no de novo aos clientes.
C: Não disse o senhor que o dinheiro que vocês emprestam corresponde aos seus ativos?
B: Sim.
C: Mas então quer dizer que o passivo que vocês recebem dos clientes e o ativo que vocês emprestam... são a mesma coisa!
B: Bem… Eu não seria tão categórico!
C: Eu deposito 5000 euros na minha conta e o banco deve-me esse dinheiro (que é o passivo), mas eis que o emprestam a outra pessoa (o ativo) e ele... tem que devolvê-lo. Mas... não são os mesmos 5000 euros ?
B: Com certeza!
C: Então, se ambas as operações se anulam... os bancos NÃO TÊM NENHUM DINHEIRO!
B: Isso é só em teoria...
C: Esqueça a teoria. Se não têm dinheiro... de onde tiram as suas reservas?
B: Já lhe disse... é simplesmente dinheiro que ganhamos...
C: Como?
B: Se o senhor nos traz 5000 euros , só utilizará, em princípio, dez por cento dessa quantia. Os pagamentos grandes são feitos com talão. Nós guardamos 500 euros para quando o senhor precisar de dinheiro propriamente dito.
C: E o resto?
B: Bem, a partir de cada um daqueles 500 euros restantes lucramos 5000
C: Vocês lucram 45.000 com base nos meus 5000 iniciais?
B: Claro, pois da mesma forma que o senhor só utiliza 500 dos seus 5000 euros , com os outros acontece o mesmo.
C: E cobram juros?
B: Claro, ao redor de 19% a 20%, que seria o lucro.
C: Mas são 20% sobre 45.000 euros a partir dos 5000 euros!
B: Algo assim.
C: E por que não é meu esse lucro? Afinal, não se trata do meu dinheiro?
B: É a aplicação das teorias bancárias...
C: Mas tenho que cobrar-lhes juros, pois se trata do meu dinheiro!
B: Isso o senhor já faz. Dependerá do tipo de conta, desde 0.5% até 6% ou 8% para depósitos à prazo, dependendo da taxa.
C: Mas que negócio estou fazendo!
B: Claro que esse juro o senhor recebe no caso de não retirar o seu dinheiro.
C: Mas é claro que vou retirá-lo! Se pensasse nunca mais sacá-lo... eu teria enterrado no jardim…
B: Não vamos gostar se o sacar de novo...
C: Por que não? Se o mantenho no banco, o senhor disse-me que é passivo (dinheiro que vocês devem)... Penso eu que os senhores ficarão contentes por ver que reduzo as suas dívidas.
B: Não! Isso não nos interessa.... Se o senhor o retirar não poderemos emprestá-lo a ninguém!
C: Mas se quero sacá-lo, terão que dá-lo a mim!
B: Certamente.
C: Então... suponha que já emprestaram meu dinheiro a outro cliente.
B: Nesse caso lhe daremos o dinheiro de outra pessoa.
C: Mas... e se essa pessoa também o quiser?
B: O senhor está sendo propositadamente obtuso!
C: Pois eu acho que estou sendo é agudo. O que aconteceria se todo mundo quisesse seu dinheiro ao mesmo tempo?
B: A teoria bancária diz que isso não acontecerá NUNCA.
C: Claro. Acho que já basta de conversa.
B: Bem, prezado cliente, agora o senhor não tem mais que depositar uma quantia para abrir sua conta.
C: Ah, sim, agradeço. Mas, pensando bem, se vou abrir uma conta... não seria melhor negócio que eu abrisse um banco?

Beijos carinhosos!

Alana Oliveira.

Assim disse Martin Luther King:

Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.


Plantem vossas macieiras!

Alana Oliveira.

sábado, 2 de outubro de 2010

Poetiza

Um dia disse pra mamãe
que queria ser poeta.
Mas mamãe respondeu
que eu iria morrer de fome.
Coitadinha da mamãe: esqueceu
que já morro de fome por causa da dieta.
Esqueceu que vivo de folhas...
e folhas por folhas, prefiro as de papel.

Alana Oliveira.

Ócio

Meu ócio, meu ópio
minha poesia danosa
agoniza noite adentro.

Madrugada afora
agoniza o sono
que prejudica minha debilitada imaginação.

Que triste fim!

Alana Oliveira.

Transitório

Se queres por que finges
e põe minhas meninges
à inflamar?
Um dia me fita com olhares singulares
noutro passa apressado
vestido de pretextos
pra não ficar.
Não vês que um dia abdico,
entrego os pontos,
pra outra costurar?
Sofro a primeira semana
e no oitavo dia já tenho outro
que possa me cozinhar.

Alana Oliveira.

Cidade que dorme

A lâmpada acesa
reflete a cidade que dorme.
Eu sou da cidade que sonha.

A lua
que ilumina o meu sonho
é diferente da luz que ilumina
a rua.

A rua está morta,
o sonho vive em mim.

Alana Oliveira.

Pobreza

Era uma vez uma gente tão pobre,
tão pobre que só tinha dinheiro.
Um dia veio a felicidade
e levou todos pro buraco.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Imprevisto da vida

O tempo corre exíguo
Mas que é o tempo afinal?
a delimitação da vida,
medida infinita,
alucinação da gravitação universal.

A Lei Harmônica relativiza-o:
- ah! Se eu morrasse em Mercúrio,
um ano em oitenta e oito dias terrestres.
Quantas oportunidades de recomeço...
quantos carnavais e Natais.
Coleção de perdões, coleção de voltar atrás.

Mas que a idade viria cedo,
multiplicada por quatro.
Pois que nem o tempo pode ser perfeito,
que dirá a longevidade da vida
que sempre é breve.

Cruzes morar em Plutão
um ano em duzentos e quarenta e oito anos terrestres,
nove mil quinhentos e vinte dias
sem ciclos, invictos.
Viveria muito...
e não viveria nada.

Um beijo,
Alana Oliveira.

Aqui neste profundo apartamento

Aqui neste profundo apartamento
Em que, não por lugar, mas mente estou,
No claustro de ser eu, neste momento
Em que me encontro e sinto-me que vou,
Aqui, agora, rememoro
Quanto de mim deixei de ser
E, inutilmente, [....] choro
O que sou e não pude ter.

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas.

Saudações!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ódio?

Ódio por Ele? Não... se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!

Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...

Florbela Espanca, em "Livro de Sóror Saudade".

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Horário Político Gratuito... Gratuito?


Oi, você que lê!

Saiu na REVISTA VEJA, edição 2179 de 25 de Agosto de 2010:

"850 000 000 de reais é o valor da isenção de impostos concedida pelo governo às emissoras de rádio e TV, para compensar a queda de arrecadação publicitária durante o período de propaganda eleitoral gratuita"

É esse o preço que sai do meu bolso e dos vossos para que possamos ligar nossas televisões e escutar coisas do tipo:
"Pior do que está, não fica. Vote Tiririca"
ou mesmo:
"Você sabe pra que servem os deputados federais?
-Eu também não, mas vote em mim que se eu ganhar eu te conto"

Parece piada...
Arg... eu disse piada? Na verdade não foi bem isso que eu quis dizer! Quero dizer, deixa pra lá...
Mas como eu já ia dizendo, nunca devemos subestimar a estupidez humana, sempre dá pra piorar um pouquinho... É que recentemente nova lei proibiu a temática política na bagagem comediante.
É triste que os pilares da legislação possam sustentar um desconchavo desses.

Dureza é ter que ir para o canal pago para não assistir ao Hilário Eleitoral Gratuito.
Ops... eu disse gratuito?
Não... nem tão gratuito assim.

Alana Oliveira, por um #humorsemcensura.

domingo, 8 de agosto de 2010

Consoada


Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou coroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira.

- E nós que aqui estamos, por vós esperamos!

Alana Oliveira.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Haiti

Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil


Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon

Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti


O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui


E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau

E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal

E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti


O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui


Before you see the problems of others, I wish that the perception of your own problems precede.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Inverso oposto



Inverso oposto

Como posso eu que desde a infância
tratada a leite esterilizado,
poupada da bronca destra forte
e do mais ridículo resfriado
amolar-me com este seu civilizado?

Logo eu sempre comedida e bem-comportada
Encontrar-me agora ofendida e incomodada
ferida pungente n'alma.

Perplexa com meu contraditório
como na relação de perpendicularismo entre duas retas
proponho que delete este suvenir de boas maneiras
dispa-se deste black-tie
e me poupe também deste abstrato das saudades.

Alana Oliveira.

Fast Food

Gosto é de escrever pouco
reações imediatas
ofensas rápidas, perdoáveis
A força delicada
da palavra escrita
da palavra dita
da palavra pensada
da palavra
Pá!

Alana Oliveira.

Confessionário

Papa Inocêncio, Goeldi.


Confessionário

- Pelas vezes que rezei com fervor ubíquo
e pelas vezes que bocejei diante dos apelos dominicais do santo padre,
Javé, rogo perdão.
O equilíbrio está no meio.

Alana Oliveira.

Hora de Dormir

Abandono, Goeldi

Hora de Dormir

Naquelas histórias o que me fascinava

não era a moralidade, a tragédia quase grega

ou o enredo desengonçado à Mazzaroppi.

Mas o lirismo particular, detalhista

um diálogo, uma escada

a misteriosa cor de um véu...

Alana Oliveira.

Juízo Final


A Primeira Comunhão (1898) - Pablo Picasso.

Juízo Final

- Tá, eu mentiria se dissesse que em vida
estive compenetrada ao misterioso colóquio da divindade;
proponho três padre-nossos, três ave-marias e a recomendação subsidiária
de ser menina firme diante da fraqueza humana carnal e pecadora,
em troca de um barraquinho no céu. Deus, meu véio, é pegar ou largar!
- Feito, feito.

Alana Oliveira.

Desvantagem


Blue Guitar ou Violão Azul (1903) - Pablo Picasso em sua fase azul caracterizada pela solidão, morte e abandono.

"My mother said to me, 'If you are a soldier, you will become a general. If you are a monk, you will become the pope'. Instead, I was a painter, and became Picasso."
P. Picasso.


Desvantagem

Julgam-me insubordinada

audaciosa, herege, displicente

insubmissa, causadora de polêmicas

uma ameaça à paz.

Bobagem, desvantagem...

Sou apenas uma semi-ruralzinha do interior.

Alana Oliveira.

pão e CIRCO


Guernica (1937) - Quadro cubista de Picasso que faz referência repudiante à chacina ocorrida em Guernica, cidadezinha da Espanha, por aviões nazi-fascistas do general Franco.

"No, la pintura no está hecha para decorar las habitaciones. Es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo." P. Picasso.


pão e CIRCO

Fomes guerras assassínios

Injustiça latifúndio escravidão

Crimes mensalões serial-killers

pobreza impunidade lentidão

Gritos exaltados dentro dos condomínios de luxo,

das casas burguesas, dos prédios de classe-média, dos casebres de pau a pique do alto das favelas:

- Vai Brasil, ser hexa-campeão!

Alana Oliveira.

Estantes


Les Demoiselles d'Avignon (1907) - Quadro de estilo cubista do espanhol Pablo Picasso

Estantes

Casais casados, namorados
namoridos.
Rolos enrolados, amantes
traídos.
Casos coloridos, ficantes
ficadas.
Ou, simplesmente
estantes...
(do verbo "ser-estar").

Alana Oliveira.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dieta

A Mesa Posta (1987) - Henri Matisse


Dieta

Meia maçã,

Meia mexerica,

Meia uva,

Meio copo de leite.

- Não basta?

Meia vida... ah!

Incompletude!

Alana Oliveira.

SÃO PAULO


São Paulo (1924) - Tarsila do Amaral


São Paulo

Adoro esta cidade
São Paulo do meu coração
Aqui nenhuma tradição
Nenhum preconceito
Antigo ou moderno
Só contam este apetite furioso esta confiança absoluta este otimismo
[esta audácia este trabalho este labor esta especulação que fazem
[construir dez casas por hora de todos os estilos ridículos grotescos
[belos grandes pequenos norte sul egípcio ianque cubista
Sem outra preocupação que a de seguir as estatísticas prever o futuro
[o conforto a utilidade a mais-valia e atrair uma grande imigração
Todos os países
Todos os povos
Gosto disso
As duas três velhas casas portuguesas que sobram são faianças azuis

Blaise Cendrars

Saudações, bem mineiras...
Alana.

sábado, 29 de maio de 2010

Mudança no Código Florestal Brasileiro



Prezados,

Na próxima terça-feira (1 de junho de 2010) poderá ser aprovada no Senado a proposta de mudança no Código Florestal Brasileiro que inclui:

- Redução da Reserva Legal na Amazônia de 80% para 50%;
- Redução das Áreas de Preservação Permanente como margens de rios e lagoas, encostas e topos de morro;
- Anistia aos crimes ambientais, sem tornar o reflorestamento uma penalidade obrigatória;
- Transferência da legislação ambiental para o nível estatal, removendo o controle federal.


E o que é mais revoltante é que os responsáveis por revisar essa importante lei são justamente os ruralistas, representantes do grande agronegócio.

Essa não é uma escolha entre ambientalismo e desenvolvimento, já que um estudo recente mostrou que o Brasil ainda tem 100 milhões de hectares de terra disponíveis para a agricultura, sem a necessidade de desmatar um único hectare da Amazônia.

Na esperança de que esta incabível lei não seja aprovada, despeço-me.

Alana Oliveira.

Ciclo vicioso



Eu vi-o e meus átomos
remexeram
como num big-bang
remexem.
Ele viu-me e suas pernas
remexeram
como na eletrosfera os elétrons
remexem.
Fiquei no banho-maria.

Hoje vê-me dândi
e seus átomos despeitados
flertam os meus imunes a DDT.
Pois que fique a ver navios.

Alana Oliveira.

Devoluto iterativo


névoa, nódoa, nódulo, neva,
insosso, soca, sopra, assusta,
insano, insolente, insalubre, insiste,
(Sônia) i n s ô n i a.

Alana Oliveira.

Quem-dera-se...

La Promenade (A caminhada), Pierre Auguste Renoir - 1870



Quem-dera-se

assim como no encontro

da estalactite com a estalagmite

você e eu nos encontrássemos.

Assim

poderíamos também formar nossa coluna na caverna,

uma união, quem sabe, eterna.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Canudos, um massacre.

Antônio Conselheiro X Anticristo da República.
Sobre a (covarde) Guerra de Canudos:
(Sobradinho - Sá e Guarabira)

O homem chega já desfaz a natureza
Tira gente põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia, vai subir bem devagar
E passo a passo, vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar


O Sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire Sertão


Adeus Remanso, Casanova, Sento Sé
Adeus Pilão Arcado veio o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira, o Gaiola vai subir
Vai ter barragem no Salto do Sobradinho
O povo vai se embora com medo de se afogar


E o Sertão virou mar... mar de sangue.

"Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo."
Euclides da Cunha.

Alana Oliveira.

Publicidade Sustentável












Esta campanha publicitária foi adotada pela World Wildlife Found.
À medida que o papel vai sendo utilizado, o verde - que simboliza a riqueza natural da América do Sul - também acaba, refletindo o tamanho do impacto ambiental que o uso indiscriminado de simples toalhas de papel é capaz de provocar num futuro não tão distante.
Além disso, abre precedentes para o alerta de que outros desperdícios análogos também podem levar às mesmas consequências...

É BRILHANTE!

Adorei...
Alana Oliveira.

domingo, 9 de maio de 2010

Reflexão...

Amados,

Apenas uma reflexão Drummoniana para o Dia das Mamães:

PRA SEMPRE

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Desejo aos filhos, dedicados ou revoltados, que não amem vossas mães sem saber, pois é (tristemente) possível que só se dêem conta da profundidade enraizada deste amor no momento da derradeira separação.
Desejo às mães, carinhosas ou repreensivas - já que isto é amor do mesmo jeito, tudo o que houver de mais sublime.
Todos os dias são vossos e como tal devem ser dedicados à vós...
E, em especial, a mamãe Adriana, a melhor de todo este mundo, que me guardou em seu ventre aquecido, que me deu a vida (o que mais eu haveria de querer?), que me acalentou em seus braços, desejo que esteja comigo pra sempre!
Te amo mais que à mim.

Feliz Dia das Mães!

Alana Oliveira.

sábado, 8 de maio de 2010

ASTRONOMIA


Amados,

O estudo dos astros - ou seja, a astronomia - foi atividade que abriu as portas do mundo da ciência para os seres humanos. No firmamento, os primeiros homens e mulheres, ainda na pré-história, perceberam a existência de mecanismos e ciclos específicos que se refletiam em suas atividades terrenas: o Sol, a cada dia, criava a divisão entre o dia e a noite; a Lua, a cada volta que dava ao redor da Terra, marcava o período conhecido como mês; a posição de determinados agrupamentos de estrelas, ao longo do tempo, parecia indicar os melhores períodos para plantio e colheita - pista fundamental para a sobrevivência de agricultores dezenas de milhares de anos atrás.
O céu era, e é, bem movimentado, mas, ainda assim, inspira uma certa noção de ordem, de mecanicismo. Assim, não é à toa que inspirou a percepção de que o mundo podia evoluir a partir de certas regras pré-determinadas - leis da natureza, por assim dizer.
Ao se colocar na base da ciência, a astronomia fez sentir sua influência em praticamente todos os ramos do conhecimento científico, porém, com a crescente repartição do saber em gavetas estanques, as noções astronômicas foram diluídas, e sua importância aparente no ensino decresceu de forma atenuada.
Não é difícil perceber os efeitos desse processo: note que as noções básicas sobre Sistema Solar são transmitidas nas aulas de geografia e ciências, as leis de movimentos dos planetas estão no curso de física, o andamento da corrida espacial do século XX está na disciplina de história, e as descobertas mais sofisticadas sobre a origem do universo, PASME, não estão em lugar algum!
Os prejuízos dessa diluição refletem na perda do próprio ensino para o aluno e paro o professor, que se vê sem uma poderosa ferramenta.
É fato que a transferência de indiscriminadas doses de conhecimento, combinado com a pouca fala do porquê de tudo, do pra quê de tudo, torna o ensino desmotivante e pouco atraente.
Ora, o que motivou uma considerável parcela das pessoas mais inteligentes do mundo, em todos os tempos, a desenvolverem determinadas idéias??
"- Saber de onde viemos e para onde vamos", a resposta clichê, batida, que à mim embute uma das principais características humanas: a inabalável curiosidade.
Portanto, falar de espaço é evocar esse tipo de curiosidade inata. Mencionar a possibilidade de novos mundos e de vida extraterreste é despertar todo tipo de interesse romântico associado à pesquisa espacial.

É excelente maneira de fisgar o interesse prematuro pelos avanços científicos e tecnológicos e, noutro momento, a percepção para o próprio papel nesse contexto; e isso, meus caros, é fundamental!

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Este post é dedicado à minha pequena e amada irmã, Iara - 9 anos, que aproveita as horas vagas para dedicar-se às leituras astronômicas, haja vista que fará a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, ramo que adora estudar.
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Alana Oliveira.

Genética e Preconceito.


Amados,

Hoje sabemos que o fenótipo, isto é, toda característica visível ou verificável, é o resultado da interação entre genótipo e o meio, embora não seja possível afirmar, com plena certeza, a proporção - apenas que ela seja surpreendentemente variável. No entanto, a história da genética está repleta de casos em que a influência do meio foi subestimada, valorizando-se excessivamente o papel fundamental dos genes.
Para entendermos a dificuldade associada ao estabelecimento da proporção da influência do genótipo ou do ambiente, basta que pensemos até que ponto a inteligência, a obesidade ou o talento para a música são componentes hereditários e até que ponto o ambiente adequado favoreça o desenvolvimento dessas potencialidades.

A exemplo de marginalização do papel de influência do ambiente estão os trabalhos do cientista Francis Galton, primo de Charles Darwin.
Galton fundou a eugenia - estudo dos métodos para "melhorar" o conjunto de genes da espécie humana... em nome da eugenia, muitos equívocos foram cometidos.
Os primeiros trabalhos sobre o assunto defendiam a tese de que a prostituição, a criminalidade e o alcoolismo eram características exclusivamente genéticas, que nada tinham a ver com os fatores sociais; defendeu-se a noção de que era necessário restringir a reprodução de pessoas geneticamente "imperfeitas"; o cruzamento entre raças diferentes foi abominado devido ao prejuízo que traria à pureza genética do grupo superior; e, sim, muitos estudiosos chegaram a considerar certas raças como superiores (por coincidência ou não a raça é sempre a de quem utiliza o argumento).
Idéias desse tipo foram bastante difundidas nos EUA dos anos de 1880 -1930, quando promulgaram-se leis à favor da esterilização de criminosos e doentes mentais, da imigração restrita (exceto os provenientes da Europa Ocidental) e dos casamentos inter-raciais proibidos.
O clímax, porém, aconteceu na Europa nazista que proclamou a superioridade dos arianos, exterminando milhões de pessoas que não agradavam genética ou políticamente ao regime autoritário de Adolf Hitler.


Alana Oliveira.

sábado, 1 de maio de 2010

"Morte de fumante ajuda economia" diz Philip Morris

Amados,

A P.M., gigante americana da indústria do tabaco, divulgou no jornal econômico The Wall Street Journal, um relatório no qual ressalta os benefícios econômicos do cigarro para as finanças públicas da República Tcheca.
O relatório aponta o impacto positivo do tabagismo nas finanças do país, incluindo a economia de gastos na área da saúde em virtude da mortalidade precoce e os ganhos obtidos pela arrecadação de impostos.
A morte precoce de fumantes na República Tcheca, segundo o relatório, ajudou o governo a economizar em gastos na área de saúde, em cuidados geriátricos, no sistema de pensão e previdenciário.

Espanta ver como foram tratados os fumantes pela própria indústria de tabaco - simples cifrões no balancete de lucros.
Nem mesmo em um ambiente com a quantidade de cifrões convertida em metros quadrados caberia tamanha despreocupação com as faculdades sociais, tamanha impessoalidade.
Imagino que este tipo de aristocracia não tenha fumantes na família ou em qualquer vínculo próximo que se estabeleça afeto.
Não-fumante esclarecida, filha de pais FUMANTES bem esclarecidos que sou, sinto-me duplamente feita de boba quando leio uma coisa dessas... e não sei se sinto mais nojo do produto ou do produtor.
Não acredito na eficiência plena de qualquer campanha governamental anti-fumo. O que acredito é que se querem acabar com o tabagismo, então que fechem as fábricas de cigarro.

Alana Oliveira.

domingo, 25 de abril de 2010

A Vírgula reticências

A vírgula é um sinal de pontuação que separa os termos da oração e marca uma pausa de curta duração.
É usada, em geral, quando a ordem direta da frase (Sujeito Verbo Complemento) é interrompida. Acompanhe:

Ninguém teme ao tirano ditador.
Sujeito Verbo Complemento

As gírias, vício de linguagem paupérrimo, são um plebeísmo.
Sujeito Aposto Verbo Complemento

Porém, amados, a importância do seu emprego adequado transcende as barreiras das regras ortográficas e gramaticais da língua portuguesa, galaico-castelhana ou galicígrafa, posso assegurar-lhes!
Pode ser a diferença entre ser galante ou cometer uma gafe!
Isso porque uma mesma frase pode ter sentido totalmente inverso se remanejarmos a pequena de lugar.
É o caso da frase abaixo, que possui um jeitinho machista e outro realista... arg... quero dizer, feminista de pontuar:

Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro à sua procura.
ou
Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro à sua procura.

Para Roberta Vecchi.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pertinácia



Há muitos anos, um jovem caminhava muitos quilômetros para tomar livros emprestados e lê-los à noite, à luz da lareira.
Mais tarde, aos 31 anos de idade ingressou nos negócios e faliu.
Foi derrotado numa eleição para o Legislativo com 32 anos.
Faliu outra vez nos negócios aos 34 anos.
Apaixonou-se por uma bela moça, de quem ficou noivo - e então ela morreu. Ele tinha então, 35 anos. Mais tarde, casou-se com uma mulher que foi um fardo constante para ele.
Aos 36, teve um colapso nervoso.
Perdeu uma eleição aos 38. Perdeu nas eleições para o Congresso aos 43, 46 e 48 anos. Perdeu uma disputa para o Senado com a idade de 55. Fracassou na tentativa de tornar-se vice-presidente aos 56 anos. Perdeu uma disputa senatorial aos 58 anos.

Foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América aos 60 anos de idade. Seu nome?
Abraham Lincoln, um dos eméritos presidentes que os EUA teve.


Eis o segredo, amados:
Às vezes, a diferença entre o fracasso e o sucesso é uma tentativa a mais.

Deixemos de ser estóicos... sonhar é poder!

Um beijo de boa noite!
Alana Oliveira.

Disponível em: Em Busca da Autoconfiança - Estrutura Emocional de Aço - Marcio Kuhne.

domingo, 11 de abril de 2010

RETRATAÇÃO da Epítome do doesto do dia 26/03/010

Preciosos e honrados leitores,

Pra tudo na vida tem-se a primeira vez, é o que zela o velho ditado.
Pois nesta quinta-feira, dia 08/04/010, vivi a experiência de ter, pela primeira vez, uma convocação dos pais no ambiente escolar. Frustrante experiência, diga-se de passagem, já que o assunto foi tratado à nível pessoal!
A convocação resultou do Post lançado nesse mesmo endereço no dia 31/03/010, intitulado "Epítome do doesto do dia 26/03/010" e assinado pela minha pessoa, no qual discorro de forma descritiva, verídica e até certo ponto impessoal, sobre a manifestação COLETIVA dos estudantes do IF-SEMG - Campus Rio Pomba.
Não sou pessoa de duas palavras, menos ainda duas filosofias, porém, tendo em vista que a postagem magoou profundamente os coordenadores gerais citados – Roscelino Quintão Barbosa e Bruno Gaudereto Soares, então autores da convocação, invoco o perdão pelos adjetivos utilizados não para ferir, mas para caracterizá-los na circunstância, que, de acordo com o Michaelis - Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa - da Editora Melhoramentos, ano de 2004, define-se como:

Neurastênico: adj Que se refere à neurastenia. adj+SM Que ou aquele que sofre de neurastenia.

Neurastenia: sf 1 Fraqueza do sistema nervoso. 2 Esgotamento nervoso.

Modorrento: adj 1 Que tem modorra. 2 Apático, preguiçoso, sonolento.

Modorra: sf 1 Grande vontade mórbida de dormir. 2 Doença que ataca o gado lanígero, ocasionada pela excessiva abundância de sangue. 3 Prostração mórbida. 4 Sonolência. 5 Apatia, indolência, insensibilidade. 6 Preguiça.

Sem mais, cito Milton Nascimento:
“Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece, - Como não fui eu quem fiz?”

CORAÇÃO CIVIL
(Milton Nascimento e Fernando Brant)


Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?
Viva a preguiça, viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar.

Discordem de tudo que eu digo, mas defendam até morte o direito que eu tenho de dizê-lo.
François-Marie Arouet, o Voltaire.

Obrigada pelo apoio que tenho recebido.
Alana Oliveira.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ensaio cronical: A saga do salão de beleza!!

Hoje era dia de salão de beleza.

Nada como mudar a aparência o mínimo que seja... essencial para as mulheres, imperceptível para os homens.
Começa o "primeiro round": você chega à porta e é examinada pelas companheiras de batalha. Tudo está em questão: cor e estado dos cabelos, unhas, roupas... tudo em questão de segundos.
Sem pedir você ocupa uma posição no ranking!
Segue em direção ao primeiro assento vazio que vê, ainda meio tonta pela primeira avaliação. Os olhares predadores acompanham-te.
Chega a sua vez de ser atendida marcando o início do "segundo round". Lava cabelo, seca cabelo, corta cabelo, pinta cabelo, hidrata cabelo, corta unha, lixa unha, tira cutícula da unha, pinta unha, faz sobrancelha, depila pernas, coxa, axilas, um puxão aqui, um bife ali - "Por Deus, estará esta manicure com fome?"
Vem a fase das conversas paralelas que servem para deixar a sua pobre cabecinha confusa. Clientes caloteiras, moda da próxima estação, novela das oito, dietas novas, Dourado ter vencido o BBB - aberração! Tente falar que é contra as cirurgias plenamente estéticas e será tachada de esquisita... o "terceiro round" foi vencido.
O "quarto e último round" é anunciado quando seu tratamento está finalizado. Você se levanta, triunfal, balança o cabelo e se admira de zero à trezentos e sessenta graus e quantos outros ângulos forem possíveis.
Enquanto isso sorrisos exageradamente grandes e invejosos são lançados. Nada mais satisfatório para uma mulher, no salão de beleza, que o despeito da outra!
Segue à porta, singularíssimamente feliz! UFF... o ar respirado está mais leve! De repente ouve, assustadoramente, alguém gritar seu nome.

Esqueci o celular... MARTÍRIO!!

Alana Oliveira.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Epítome do doesto do dia 26/03/010.

Amados,

Nesta sexta-feira transcorrida (26/03/010), ocorreu no IF-SEMG - Campus Rio Pomba a primeira manifestação pacífica, envolvendo os estudantes matriculados em 2008 nos cursos Técnicos em Alimentos, Agropecuária, Florestas e Zootecnia.
O movimento teve como objetivo a reivindicação dos direitos básicos estudantis, bem como o posicionamento contra a decrepitude moral e o simulacro barganhado administrativo ao qual os alunos se viam submetidos há algum tempo.
O início ocorreu por volta de 13h, quando do início das aulas, as quase oitenta pessoas concentraram-se à frente do prédio central da Instituição, na esperança de estabelecer contato efetivo com os coordenadores gerais.
Roscelino Quintão Barbosa - Coordenador Geral de Assistência ao Educando, e Bruno Gaudereto Soares - Coordenador Geral de Desenvolvimento, foram designados a tentar resolver o doesto da melhor maneira possível.
O primeiro, neurastênico e em tom ameaçador, obteve pouco êxito; o segundo, apesar de modorrento e inçado pela lei do menor esforço, ao menos ofereceu tempo, ouvidos e diálogo aos reivindicantes.
Em pouco mais de 1h de inconclusões e desacordos, foi discutida a construção insensata e extravagante do Anexo (vulgo "puxadinho") , da passarela de meio metro de profundidade de concreto (vulga "aberração da natureza") e da paradoxal casa com TV para o vigia-noturno; a instalação das cancelas jamais utilizadas; o não-funcionamento do Laboratório de Informática; as milhões de burocracias para locação de obras literárias no acervo bibliotecário, a retardação no empréstimo dos livros didáticos, a morosidade na chegada dos ventiladores e cortinado, a defasagem de funcionários para os serviços gerais (instalações e etc), a desafeição no atendimento da mecanografia e a má qualidade de seu serviço, entre outros...
A proposta colocada pela partícula apassivadora foi que os manifestantes retornassem às atividades normais do dia e que concomitantemente, fosse marcado à diante, uma reunião com os representantes de turmas a fim de chegar-se a um acordo para a resolução dos problemas.
Para a sua decepção, embora os alunos tenham concordado de bom grado com a reunião, permaneceram, tenazes, com a paralisação.

Proclamo, pois, a minha mais franca admiração e humilíssima parabenização aos participantes da militância. Nós, alunos, somos os clientes mais importantes das Instituições de Ensino, embora por vezes sejamos marginalizados à voz mais frágil da cadeia.
Lutar pelos direitos assegurados pela Cartilha dos Direitos em Educação é um dever natural ao cidadão não alienado.
Nesse sentido, respeitosamente deixo os meus melhores cumprimentos aos educadores desta Instituição, responsáveis pela formação destes sublimes cidadãos.

"Não queiram levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio para grandeza e emancipação da pátria."
Lima Barreto

Boa noite...

Alana Oliveira.

sábado, 20 de março de 2010

Relativismo Ético.

Amados,

Entitulo a charge de: "A Política Externa Norte-americana e o Discurso Anti-terrorismo."


Cada dia que passa noto com maior intensidade que o mundo caminha pragmático. A relativização da ética é um bom exemplo. Os valores perenes estão démodé, e a legitimidade makiavélica dos fins que justificam os meios estão em alta. Bom é o que é conveniente, convenient and with lucrative ends!
Dia desses achei engraçado quando li a expressão "guerras preventivas", usada pelos nossos amigos norte-americanos; os mesmos benevolentes e violadores da ONU - órgão responsável por fomentar a paz e a segurança mundial e blá, blá, blá...

Quando penso nos deprimentes caminhos que às vezes, tomamos, lamento:

Será este o papel que nos cabe nesse imenso latifúndio global?

In many ways, they'll miss the good old days... someday, someday...

Alana.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Grécia - Um milagre!

Amados,

Resolvi, para o post de hoje, fazer breves analogias entre a Civilização Grega, que tanto me encanta, e a nossa geração, a Geração Coca-Cola!

Isso porque somos gregos! Somos todos gregos e não sabemos!
Nós, ocidentais, somos os maiores herdeiros do vasto legado desta nação, a mais importante do mundo antigo: ela, a própria Grécia.
Além das instituições e das ciências, o que mais me admira é o esplendor cultural de suas Cidades-Estados.
Apesar de serem independentes entre si e muitas vezes rivais, davam tanto valor à cultura que, em época de Jogos Olímpicos, o espírito de união crescia tanto que qualquer guerra era proibida. E sim, os gregos o b e d e c i a m.
Analogamente, hoje, temos as Copas e demais disputas de Futebol. Jesus e Judas sentam e sofrem à mesma mesa para assistir as finais dos campeonatos.

E o teatro... Na Grécia, o político que desviasse dinheiro do teatro era morto, executado.
Hoje, os nossos políticos também desviam dinheiro. Desviam da Educação, da Saúde... A diferença é que com eles não acontece nada!

Ah!... também tem o culto ao corpo. Se as mulheres de hoje tem tamanha obstinação pelo corpo, a culpa é das espartanas. As danadas hiper-definidas, já eram preparadas física e militarmente desde que eram um zigoto, para o casual estopim de um guerra!

As lindas praças de todo município são aconchegantes heranças gregas.

E a sexualidade... o homossexualismo "ativo" era bastante difundido na Grécia Antiga. A oligarquia poderosa gozava de "direitos sexuais" sobre os seus hilotas (escravos).
Apesar dessa naturalidade, o homossexualismo "passivo" era bastante mal visto e alvo de preconceitos. Aliás, até o vibrador mais rústico foi inventado na Cidade-Estado de Corinto. É evidente que não vibrava e inicialmente era de couro.

Se não fôssemos Cristãos - herança oriental, nos verões andaríamos pelas ruas nús como viemos ao mundo! Mas fomos salvos do mau e pecaminoso!
Perfeitamente compreensível que não dê para agradar à gregos e à troianos!

A Grécia foi mesmo um milagre para o mundo antigo e contemporâneo. Um milagre de refinamento. Um avanço para o seu tempo.

Καληνύχτα, amados!

Alana Oliveira.

domingo, 7 de março de 2010

08/Março - Dia Internacional da Mulher.

"Quando as mulheres tem gênio, acho-as mais originais que nós."
Denis Diderot, ilustre filósofo e escritor francês.

"As mulheres são demônios que nos fazem entrar no inferno pela porta do paraíso."
São Cipriano.



Amados e Amadas,
contar-vos-ei uma breve histórinha:

Há 153 anos atrás, no dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos da cidade Norte-Americana de Nova Iorque fizeram uma grande greve. Ocuparam a própria fábrica para reivindicar melhores condições de trabalho, tais como redução na carga horária diária de 16h para 10h, equiparação de salários masculino X feminino (na época as mulheres chegavam a receber até um terço do salário recebido por um homem para executar a mesma tarefa) e tratamento digno no ambiente de trabalho.

A manifestação foi duramente reprimida. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.

53 anos depois, durante uma Conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o Dia Internacional da Mulher, em homenagem as mulheres que morreram no incidente de 1857.
Mais 65 anos decorridos e a data foi oficializada pela ONU, através de um decreto.

Consternados?

Pois essa "histórinha da vida real", que a mim chega a causar misantropia, foi um dos capítulos da triste novela que viveram nossas ascendentes para que hoje pudéssemos gozar dos direitos fundamentais à vida outorgados pela Constituição.
Assim, presto meu humilíssimo preito diante de uma data tão simbólica ao nosso gênero!

Ser mulher é uma dádiva,
de incomparável beleza,
É nada saber e tudo adivinhar,
defeito mais sublime da natureza.


Alana Oliveira.

sábado, 6 de março de 2010

A Casa da Mãe Joana!



Oi, você que lê...

dia desses estava alienando-me nos besteiróis que a rede World Wide Web nos oferece, até chegar à um fórum que trazia a seguinte proposta: "Defina a Política Brasileira em UMA palavra".
Tarefa um tanto árdua, pensei, no entanto, mesmo com as dificuldades, tiveram alguns "artistas" que se saíram muito bem!

Presepada, bacanal, vergonha, cabaré, circo, zona, piada, fraude, interesses, cash, mamata, e até pizza foram adjetivos utilizados!

Nós, meros brasileiros subdesenvolvidos, podemos até ser analfabetos na urna, mas na criatividade N - I - N - G - U - É - M pode reclamar!

Afinal de contas, isso aqui também não é a Casa da Mãe Joana né?!

Para Julia Per

Alana Oliveira.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pedantismo Social na Network.

— Amor, vou ao toillet...
— Não esqueça que, como diria Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, tá benzinho?
[cara de poucos amigos]


Ser pedante é procupar-se extremamente com detalhes e minúcias cujo tom fica percebido como condescente.

O termo foi primeiramente usado por Shakespeare, quando ainda com conotação positiva, num sentido de "professor" ou "aquele que ensina".

Hoje, chamamos de ser pedante aquele/a que, por necessidade maior de auto-afirmação ou por simples Síndrome de Asperger (autismo caracterizado pela disposição do doente em dar longas e detalhadas explicações sobre todo e qualquer assunto. Newton, Einstein, Mozart, Sócrates, Wittgeinstein, Darwin e Michelangelo, por exemplo, apresentavam fortes traços da doença), mostra-se obcecado por acrescentar algo ou fazer alguma correção em discursos alheios, quando não utilizam de palavras mirabolantes para discursar sobre assuntos que não dominam.
Aqueles famosos:

"I don't know nothing about this shit.
But I'm here. Nice pic buddy.
"

Sabe o que Mário Quintana diria à um ser pedante?
Ser Pedante: "- Gostaria de propor-lhe uma troca de idéias."
Mário Quintana: "Deus que me livre!"

A extrema erudição no vocabulário também pode se tornar um tipo de pedantismo. Acompanhe:

A paixão medida


Trocaica te amei, com ternura dáctila
e gesto espondeu.
Teus iambos aos meus com força entrelacei.
Em dia alcmânico, o instinto ropálico
rompeu, leonino,
a porta pentâmetra.
Gemido trilongo entre breves murmúrios.
E que mais, e que mais, no crepúsculo ecóico,
senão a quebrada lembrança
de latina, de grega, inumerável delícia?

Carlos Drummond de Andrade

Tá, mas... E daí?
Sem querer ser pedante, mas... MENOS!

Enfim algo de substancial!


Alana Oliveira.

Oxímoro: Brasil - País Oximoroso.

Oxímoro é, segundo o Dicionário Houaiss, uma figura de retórica na qual se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se, mas que, no contexto reforçam uma expressão.
Exemplifico para ficar mais claro:
O grito do silêncio; silêncio ensurdecedor; obscura claridade e por aí vai...

Noutro exemplo, Millôr Fernandes considera a frase "Escola Superior de Guerra" um oxímoro. Segundo ele, ser superior exclui a possibilidade de ser de guerra.


Pois é, o Brasil, além de tudo é um país oximoroso.
Há um tremendo oxímoro que não sai das manchetes dos jornais:

CONSELHO DE ÉTICA DO SENADO.

A bientôt!
Alana Oliveira.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Não basta a chuva? Raios! Terremotos, Vulcões...!

Quando pequena, minha resposta à convencional pergunta "qual é o seu maior medo?" era sempre ligeira e invariável: "- Tenho medo de Vulcão!". Hoje, um pouco (bem pouco mesmo) mais sóbria e amadurecida dos pensamentos vejo que gastei grande parte da minha efêmera infância alimentando um medo irreal, pelo menos na minha condição de cidadã brasileira.

Porém, os fenômenos naturais, últimamente apenas tem se apresentado como catástrofes naturais, assolando populações.
Chego até a pensar que hoje, minha resposta para a mesma pergunta convencional, a grosso modo e levando em consideração que habito um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, de chuvas abundantes durante todo o Verão, deveria ser: "- Tenho medo de chuva".

Exemplo recente é a catástrofe de Angra dos Reis que deixou 52 mortos. Mas esperem... não descontemos toda a culpa nas gotículas derramadas. Vítimas houve não porque choveu, mas porque a pousada estava instalada onde nao deveria estar: ao sopé de um morro geologicamente instável. Ihhh!
Vidas sacrificadas, patrimônio perdido, bilhões de prejuízo para um país que dança - só no mau sentido - na chuva.
Sem muitas delongas, nós brasileiros sofremos de um problema de perda de memória de frequência anual. A cada dezembro e janeiro que passa, esquecemos o que aconteceu no dezembro e janeiro anteriores. Por consequência, as mesmas áreas, com poucas variações, são atingidas. O problema é a infra-estrutura (ou a falta dela).

Mas prosseguindo ao assunto das chuvas, também podemos citar o exemplo recente da metrópole paulistana: de 1° de Dezembro até 4 de Janeiro castigada pelos ferozes temporais que não davam trégua. Zona Leste, Sul e Oeste nadando. Córregos Aricanduva e Ipiranga transbordados...
E não basta a chuva? RAIOS!

Avançando as fronteiras brasileiras e as catástrofes naturais, chegamos ao Haiti. Se antes o país já vivia em condições sub-humanas imaginem depois do terremoto com a força de 30 bombas atômicas.
Quando leio qualquer reportagem sobre a situação do país, lamento que Thomas Hobbes não tenha vivido tanto para presenciar sua teoria de "Estado Natural" se concretizando em Porto Príncipe - o pequeno mundo sem lei. A realização do sonho Hobbesiano!
Dia desses mesmo li na VEJA edição 2148 o seguinte trecho de Diego Escosteguy:

''Conheci Phapichue, 18 anos, em Porto Príncipe. Ele não me pediu água, comida ou dinheiro. Pediu-me livros. 'Eu estudava português', ele me disse, ao descobrir que falava com um brasileiro. Estudava, no passado mesmo. A escola dele desabou.''

Choquei, claro. Fiquei com vontade de que os governos mandassem também livros e revistas aos haitianos. Afinal, sem alimentar a alma, como é possível sonhar com o futuro melhor?

Alana Oliveira.