"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


sábado, 9 de outubro de 2010

Memória

Escrevo porque sou incapaz
de expressar na retórica
a profundidade e o mistério das coisas.
Eu que nem sei o que são as coisas.
Entender é mais fácil
compondo.
Fosse eu monarca da Terra
proibia a fabricação de borracha
e excluía 'apagar' dos dicionários.
Escrever é memória.
A coisa escrita tem sentido
por si só,
ainda que a filosofia mude.
É como uma foto antiga:
não rasgamos só porque estamos diferentes, mais esbeltos.
A coisa que existe, evolui
entretanto evoluir não é critério de esquecimento.
A coisa que um dia fez sentido
é o que inspira a coisa que faz sentido
hoje.
Uma coisa não existe sem a outra,
assim como o homem não existe sozinho.

Alana Oliveira.

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