"O que quiserem... Serei incorrigível, romântica ou velhaca.
Não digo o que sinto, não sinto o que digo, ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, má e perigosa e vocês inocentes e anjinhos.
Todavia, eu a ninguém escondo os sentimentos que ainda há pouco mostrei: em toda a parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias um mesmo objeto. Verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um “eu vos amo”, mas também a nenhum pedi ainda que me desse fé. Pelo contrário, digo a todos o como sou, e se apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa certo que não é minha. Eis o que faço.
E vós meus caros amigos, que blasonais de firmeza de rochedo, que jurais amor eterno cem vezes por ano a cem diversas belezas, sois tanto ou ainda mais inconstantes que eu! Mas entre nós há sempre uma grande diferença: vós enganais e eu desengano. Eu digo a verdade, e vós, meus senhores, mentis."
"A Moreninha", romance da primeira geração de Joaquim Manuel Macedo.
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande (...) Só quero torná-la de toda a humanidade (...) Cada vez mais assim penso (...) É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. Fernando Pessoa
"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.