"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quarto 23

Aqui, neste quarto de hotel tão frio
tão desesperado e impessoal,
deito na cama
e penso na vida.
Não me sinto a vontade
nem pra pensar na vida.
Coisa estranha essa de acordar e dar bom dia à pessoas esquisitas!
- Não gosto não.
Casa da gente é outra coisa
tem gente da gente.
Cúmplice, confidente.
Cachorro latindo, criança correndo, telefone tocando junto com a campainha
a empregada indo atender cantando o forró do rádio.
Mamãeficandodoidacomfeijãoquenãoquercozinhardireito.
Aqui não!
Aqui só tem frio...

Alana Oliveira.

sábado, 16 de outubro de 2010

Israel Kamakawiwo'ole



'Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
And the dreams
That you've dreamed of
Dreams really do come true'

'The colors of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people passing by
I see friends shaking hands
Saying, "How do you do?"
They're really saying, I... I love you'

'I hear babies cry and I watch them grow,
They'll learn much more than
We'll know
And I think to myself
What a wonderful world'


AND THE DREAMS THAT YOU DARE TO, WHY, OH, WHY CAN'T I?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Velório

ah! Quão injusto não sabermos qual o último dia em vida!
... e que sorte daqueles nascidos enfermos que o sabem!
Acordaria cedo, saudando o sol,
ofereceria, sem afã, meu último sorriso sincero aos estimados,
e desfrutaria do inverso.
Neste dia não perderia tempo com as bobagens: discussões, ...
Despedir-me-ia com sentimento de missão cumprida!
Sem choros, pois que derradeira separação já havia de ser esperada.
Contemplaria a lua, calma, serena
e dormiria eternamente.

Mas, pasme!, morre-se sem saber:
um acidente ou outra coisa qualquer.
Leva-se amargura, vontade, inconclusão
deixa-se vazio, tristeza, inconformismo.

É pra compensar essa injustiça que no meu velório
quero cerveja, música alta, a entrada franca.
Não mereço que chorem na última festa que eu vou dar na Terra.

Alana Oliveira.

Fardo

Entre o improvável e o impossível
só existe o tempo.
Para encurtá-lo gasta coragem, fé.
Minha coragem passa pela prudência
e minha fé aumenta quanto mais remota é
a possibilidade.
Porque eu não sirvo pra viver a vida
no pretérito imperfeito do subjuntivo.

Alana Oliveira.

domingo, 10 de outubro de 2010

Se é amor?

Meu coração palpita
e minhas mãos tremem.
Sinto uma esquisita
suadeira.
Minha cabeça lateja
e minhas pernas não me obedecem.
À todo tempo me atormenta
o medo de ter feito besteira.

Uma mistura de sentimentos me invade
e me confunde
meu raciocínio fica lento
e minha visão debilitada:
Vejo tudo e não entendo nada.

- Se é amor? Não...
Eu tô falando de ressaca!

Alana Oliveira.

[Cerveja como são as coisas
Cê num sabe de onde eu Vinho
então não me Campari
com qualquer Rum]

.

sábado, 9 de outubro de 2010

Criação

Mantenho um medo no fundo de mim
do desapontamento alheio
que mede o mesmo comprimento do meu
desinteresse em agradar.
Não é que desejo a indiferença
até gosto de gerar espanto,
desorientar.
Desapontamento é diferente.

Tenho uma alma fecunda
que ao mesmo tempo que não esquece
mal serve pra se lembrar.
Sei pouco o pouco que sei
e pouco de genuíno tenho a contar.
Mas acredito no que invento
a ponto de pés juntos jurar
que pode até ser que esta convicção dolosa
ainda venha a me custar.

Viver da imaginação é duro
mas minha obstinada inconsequência
me impede de preocupar.
Não sou quem escrevo
mas o que escrevo me transforma.
Acredito no que invento.

Eu sou naquilo que crio
e não naquilo que creio.

Alana Oliveira.

Memória

Escrevo porque sou incapaz
de expressar na retórica
a profundidade e o mistério das coisas.
Eu que nem sei o que são as coisas.
Entender é mais fácil
compondo.
Fosse eu monarca da Terra
proibia a fabricação de borracha
e excluía 'apagar' dos dicionários.
Escrever é memória.
A coisa escrita tem sentido
por si só,
ainda que a filosofia mude.
É como uma foto antiga:
não rasgamos só porque estamos diferentes, mais esbeltos.
A coisa que existe, evolui
entretanto evoluir não é critério de esquecimento.
A coisa que um dia fez sentido
é o que inspira a coisa que faz sentido
hoje.
Uma coisa não existe sem a outra,
assim como o homem não existe sozinho.

Alana Oliveira.

Refrigério

Sentir saudade é como sentir fome
a urgência de um é tal qual a do outro.
Não dá pra disfarçar a fome
fome não tem nome
saudade também não.
Não se deixa de sentir fome
só porque se come
tudo de uma vez.
A fome sempre volta
bate na porta,
vai logo entrando e te devorando a sensatez.
Igualzinho a saudade
ela te dá um nó na garganta.
Fome e saudade demais
são o diabo.
Saudade não tem cura
o que se faz são mitigações.
Fome e saudade são marcas inveteradas
que não deviam existir sem ter estado.
Porque sentir fome do que já se comeu
é menos mau do que sentir saudade
do que não se viveu.

Alana Oliveira.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

BANCOS e a 'arte' de fabricar DINHEIRO

Amados,

Desejo que estejam a par das engrenagens que movem o sistema bancário; portanto que o diálogo abaixo, tomado entre um banqueiro e um cliente, seja bastante esclarecedor:

Cliente: Para que existem os bancos?
Banqueiro: Bem... para ganhar dinheiro, naturalmente.
Cliente: Para que os clientes ganhem?
Banqueiro: Não, para que os bancos ganhem, claro!
C: E por que é que a publicidade bancária não menciona esse fato?
B: Não seria de bom gosto, mas isso está subentendido quando se faz referência a reservas e coisas do tipo. Esse é o dinheiro que se ganha.
C: Evidentemente, ganha-se esse dinheiro dos clientes...
B: Presumo que sim.
C: Bom, e quando se fala em ativos, alude-se também a dinheiro que o banco ganhou?
B: Não exatamente. Esse é o dinheiro que se usa para ganhar dinheiro.
C: Ah, ok ! Suponho então que o guardem numa caixa-forte...
B: De modo nenhum. Nós emprestamo-lo aos nossos clientes.
C: Então os senhores não o têm?
B: Não.
C: Então, como podem chamá-lo ativo?
B: Porque ele realmente seria assim se pudéssemos recuperá-lo.
C: Mas... certamente têm algum dinheiro guardado em algum lugar!
B: Claro que sim. Normalmente temos uma quantidade igual ao ativo, a que chamamos de passivo.
C: Mas, se o têm... como podem chamá-lo de passivo?
B: Porque não é nosso.
C: Então, por que o têm?
B: Porque os clientes nos emprestaram.
C: Mas, como? Quer dizer que são os clientes que emprestam dinheiro aos bancos?
B: Exato. Depositam dinheiro nas nossas contas... e realmente o emprestam ao banco.
C: E que fazem os bancos com o dinheiro?
B: Emprestam-no de novo aos clientes.
C: Não disse o senhor que o dinheiro que vocês emprestam corresponde aos seus ativos?
B: Sim.
C: Mas então quer dizer que o passivo que vocês recebem dos clientes e o ativo que vocês emprestam... são a mesma coisa!
B: Bem… Eu não seria tão categórico!
C: Eu deposito 5000 euros na minha conta e o banco deve-me esse dinheiro (que é o passivo), mas eis que o emprestam a outra pessoa (o ativo) e ele... tem que devolvê-lo. Mas... não são os mesmos 5000 euros ?
B: Com certeza!
C: Então, se ambas as operações se anulam... os bancos NÃO TÊM NENHUM DINHEIRO!
B: Isso é só em teoria...
C: Esqueça a teoria. Se não têm dinheiro... de onde tiram as suas reservas?
B: Já lhe disse... é simplesmente dinheiro que ganhamos...
C: Como?
B: Se o senhor nos traz 5000 euros , só utilizará, em princípio, dez por cento dessa quantia. Os pagamentos grandes são feitos com talão. Nós guardamos 500 euros para quando o senhor precisar de dinheiro propriamente dito.
C: E o resto?
B: Bem, a partir de cada um daqueles 500 euros restantes lucramos 5000
C: Vocês lucram 45.000 com base nos meus 5000 iniciais?
B: Claro, pois da mesma forma que o senhor só utiliza 500 dos seus 5000 euros , com os outros acontece o mesmo.
C: E cobram juros?
B: Claro, ao redor de 19% a 20%, que seria o lucro.
C: Mas são 20% sobre 45.000 euros a partir dos 5000 euros!
B: Algo assim.
C: E por que não é meu esse lucro? Afinal, não se trata do meu dinheiro?
B: É a aplicação das teorias bancárias...
C: Mas tenho que cobrar-lhes juros, pois se trata do meu dinheiro!
B: Isso o senhor já faz. Dependerá do tipo de conta, desde 0.5% até 6% ou 8% para depósitos à prazo, dependendo da taxa.
C: Mas que negócio estou fazendo!
B: Claro que esse juro o senhor recebe no caso de não retirar o seu dinheiro.
C: Mas é claro que vou retirá-lo! Se pensasse nunca mais sacá-lo... eu teria enterrado no jardim…
B: Não vamos gostar se o sacar de novo...
C: Por que não? Se o mantenho no banco, o senhor disse-me que é passivo (dinheiro que vocês devem)... Penso eu que os senhores ficarão contentes por ver que reduzo as suas dívidas.
B: Não! Isso não nos interessa.... Se o senhor o retirar não poderemos emprestá-lo a ninguém!
C: Mas se quero sacá-lo, terão que dá-lo a mim!
B: Certamente.
C: Então... suponha que já emprestaram meu dinheiro a outro cliente.
B: Nesse caso lhe daremos o dinheiro de outra pessoa.
C: Mas... e se essa pessoa também o quiser?
B: O senhor está sendo propositadamente obtuso!
C: Pois eu acho que estou sendo é agudo. O que aconteceria se todo mundo quisesse seu dinheiro ao mesmo tempo?
B: A teoria bancária diz que isso não acontecerá NUNCA.
C: Claro. Acho que já basta de conversa.
B: Bem, prezado cliente, agora o senhor não tem mais que depositar uma quantia para abrir sua conta.
C: Ah, sim, agradeço. Mas, pensando bem, se vou abrir uma conta... não seria melhor negócio que eu abrisse um banco?

Beijos carinhosos!

Alana Oliveira.

Assim disse Martin Luther King:

Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.


Plantem vossas macieiras!

Alana Oliveira.

sábado, 2 de outubro de 2010

Poetiza

Um dia disse pra mamãe
que queria ser poeta.
Mas mamãe respondeu
que eu iria morrer de fome.
Coitadinha da mamãe: esqueceu
que já morro de fome por causa da dieta.
Esqueceu que vivo de folhas...
e folhas por folhas, prefiro as de papel.

Alana Oliveira.

Ócio

Meu ócio, meu ópio
minha poesia danosa
agoniza noite adentro.

Madrugada afora
agoniza o sono
que prejudica minha debilitada imaginação.

Que triste fim!

Alana Oliveira.

Transitório

Se queres por que finges
e põe minhas meninges
à inflamar?
Um dia me fita com olhares singulares
noutro passa apressado
vestido de pretextos
pra não ficar.
Não vês que um dia abdico,
entrego os pontos,
pra outra costurar?
Sofro a primeira semana
e no oitavo dia já tenho outro
que possa me cozinhar.

Alana Oliveira.

Cidade que dorme

A lâmpada acesa
reflete a cidade que dorme.
Eu sou da cidade que sonha.

A lua
que ilumina o meu sonho
é diferente da luz que ilumina
a rua.

A rua está morta,
o sonho vive em mim.

Alana Oliveira.

Pobreza

Era uma vez uma gente tão pobre,
tão pobre que só tinha dinheiro.
Um dia veio a felicidade
e levou todos pro buraco.

Alana Oliveira.