"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"- Vontade de falar um palavrão..."

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico.

Este vocábulo de 46 letras, que define uma pessoa acometida por uma doença pulmonar causada pela aspiração de cinzas vulcânicas, recebeu seu primeiro registro no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (pág 2242) em 2001 e desde então ocupa, no panteão dos palavrões, o primeiro lugar.

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose.

É o nome da doença citada anteriormente. Com 45 letras a palavrona ocupa o segundo lugar.

Hipopotomonstrosesquipedaliofobia.


É o nome dado à doença psicológica caracterizada pelo medo irracional e fóbico em pronunciar palavras grandes e complicadas. O vocábulo de 33 letras ocupa o terceiro lugar.

A palavra Lopadotemakhoselakhogaleokranioleipsanodrimypotrimmatosilphiokarabomelitokatakekhymenokikhlepikossyphophattoperisteralektryonoptekephalliokinklopeleiolagōiosiraiobaphētraganopterygṓn (me conte se conseguir pronunciá-la) - que possui 182 letras e se refere ao nome de um prato fictício criado por Aristófanes, assim como os plurais e os termos técnicos químicos e das ciências em geral são considerados inválidos.

Agora... já pensou se nós nos propuséssemos a substituir os palavrões de baixo calão utilizadas cotidianamente por palavrões menos vulgarizados? Pense. Usaríamos o anticonstitucionalissimamente quando tropeçassemos com o mindinho na quina ou oftalmotorrinolaringologista para quando o boçal do nosso chefe nos aporrinhasse!

Ou não...



Luis Fernando Veríssimo, em "O Direito ao Palavrão", defendeu a genuinidade enraizada desses neologismos que não saem da boca da maior parte da população.
Eis o texto:

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade, nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim vulgar, será esse Português vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o Universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não" o substituem. O "Nem fodendo!" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepne", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadencialmente, sílaba por sílaba... diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: o que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se! Grosseiro, mas profundo... pois se a língua é viva, inculta, bela e mal-criada, nem o Prof. Pasquale explicaria melhor. "Nem fodendo...".

Agora já posso dormir pra cara**o!
Ou, caso seja de sua preferência, já posso dormir pra pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico!


Para Isabella Oliveira - dona da boca mais suja que eu conheço! haha

Alana Oliveira.

2 comentários:

Unknown disse...

adoreeeeeei o post prima, mandou bem! ta cada vez melhor, to impressionada! beijos

Unknown disse...

hauhauhauahuhuahuhuha..."isabela te dedico" foii óóottimooo..morri de rii aqui em casa. hauhauhauaa..estãoo ótimos mesmo prima...ESCREVA UM LIVRO URGENTE...serei a primeira a lerrr!! hehehe!