"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


sábado, 26 de dezembro de 2009

Levanta-te e atua.



Estava só, sentada no banco da rodoviária de Ubá, esperando indiferente enquanto o meu ônibus atrasava, olhar hora vago, hora contemplativo.
Eis que surge, das cinzas como a fênix, um moço grande e maltrapilho, refletindo o rosto esquálido, pedindo-me uma ajuda de custo, para inteirar o valor da passagem do ônibus que tinha que pegar para ir ao hospital, onde fazia o tratamento da sua doença.
Convencida e coração partido, dei-lhe o dinheiro em suspiros: "- Ah, não sabe esse variante, aqui onde "vareia" e nada varia, que nada na vida cai do céu, sem esforço algum!"
"- O amor foi sucumbido pela discriminação..."


Passou mais umas três vezes por onde eu estava, entrou na primeira lanchonete, ao meu lado, de onde saiu, sem qualquer interesse em disfarçar, com um maço de cigarros na mão.
Perplexa, desiludida, atraiçoda pelo variante miserável de alma!
Me perdoei e perdoei-no como seres errantes. Aprendi!

Para brindar a orgia da qual fui vítima do vil dos cigarros, poema Devaneio Dionisíaco, cujo autor é desconhecido e o consagrado quadro de Salvador Dalí nomeado O grande masturbador.

DEVANEIO DIONISÍACO


Castro, casto, claustrofóbico
Coito, corpo, conto
Puta, peito, pinto, pinta
Suga, chupa, senta, soa
Cata, cospe, custa - costas
Farto, fado, fétido

Sento acento acend’o cigarro (ponto)





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