"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cada um sabe a dor a a alegria de ser o que é.

Hoje, ao contrário do que de costume, eu quero contar episódio horrendo que me deixou muito chateada com a vida.
Estava voltando da aula de carro, era mais ou menos 17h15min, quando, pelo caminho me deparei com uma negra e grisalha senhora, debaixo do sol de fim de tarde, já bem de idade e de aparência frágil, muito frágil mesmo, carregando 4 toras de madeira - que deviam ter mais ou menos 20 cm de diâmetro e alguns metros de comprimento - nos ombros recurvados. Ia só pela rodovia.
Fiquei pensando como eu achava que esta dura realidade estava tão longe de mim.
Olhei disfarçadamente ao meu redor. Eu estava num Honda do ano, emperequetado com todos os aparatos que este carro pode ter.
Senti nojo de tudo aquilo. Tive vontade de parar o carro, descer, e oferecer a ajuda dos meus braços jovens e fortes àquela senhora. Imaginei que depois de chegarmos ao destino das toras, sentaríamos, ela e eu.
E eu ficaria ali, ao lado dela, quietinha. Em meio a trocas de olhares, perguntaria uma coisa ou outra sobre a sua vida.
Uma mulher daquelas devia ter muitas histórias para contar. Muitas lições para ensinar. Uma sabedoria empírica invejável.
Ao contrário disso, apenas chamei a atenção das outras pessoas que estavam no carro e lamentamos juntos.
Mas eu bem que gostaria de ter sido guiada pelo instinto...

Amanhã cedo, Mariana - MG.

Alana Oliveira.

Um comentário:

Guilherme disse...

Imaginei o rosto da senhora. Não se culpe Alana, você não pode mudar o mundo.
beijaum, gui!