"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Ricardo Reis, heterônimo de sopro clássico de Fernando Pessoa.


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A um poeta - Antero de Quental


Jardim Antero de Quental (local onde morreu), Ponta Delgada - Açores.

A um poeta

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita a sombra dos altares,
Longe da luta e o fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

ANTERO DE QUENTAL.

Antero de Quental é figura importante da Literatura Realista de Portugal (junto, claro, à Eça de Queirós). Sua produção poética apresenta três momentos distintos, intimamente ligados à trajetória de sua vida: no primeiro momento (anterior à Questão Coimbrã) reflete ainda uma postura romântica; no segundo momento, com Odes Modernas, inaugura sua fase de poesia revolucionária (fase dos agitados dias de Coimbra); no terceiro momento, com Sonetos - sua obra mais completa - predomina a técnica perfeita e a lógica (motivo pelo qual foi contemplado com o epíteto de poeta-filósofo).

Em 1891, Quental, sofrendo de Doença Bipolar (uma psicose maníaco-depressiva), muda-se para sua nativa Ponta Delgado, nos Açores, onde acaba por se suicidar num banco de jardim da cidade.
Hoje o Jardim leva o nome do autor, e abriga um memorial em homenagem a um dos mais ilustres filhos da região.


Alana.

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